4 de jun. de 2007

A BOLA



por Luiz Rogério de Carvalho


Em São Joaquim, minha terra natal, moramos em muitos lugares, tantos, que nem todos tenho na lembrança. Alguns lugares, entretanto, foram mais marcantes e, ainda hoje, lembro muito bem das coisas que aconteciam na nossa infância de meninos pobres, moleques, alegres e felizes.

A casinha de tijolos aparentes, no matadouro, foi, com certeza, uma daquelas onde moramos, que deixou marcas mais profundas na minha lembrança, pois foi bem pertinho dali, num campinho onde jogávamos nossas peladas de futebol, que fui inaugurar a minha primeira bola, que ganhei num tão esperado natal.

Passada a festa natalina, no dia seguinte, faceiro e alegre, com a bola debaixo do braço, rumei para o campinho, no outro lado da rua. De tão contente, nem vi que ali estava o famoso nego Tito, filho do Zé Tereza, garotão bem maior que todos os outros, e muito malvado com os menores.

Muito orgulhoso com a minha bola, fui logo anunciando que foi meu presente de natal, e que todos estavam convidados para jogar, na sua inauguração.
Foi aí que apareceu o danado nego Tito. Chegou, prepotente e arrogante, pegou a bola, que era de borracha, e com um violento chute mandou direto a uma cerca de arame farpado.

Nem é preciso dizer que a bolinha, que chegara pulando de alegria, igual a mim, projetada com a enorme força do nego Tito, encontrando a primeira farpa aguda do arame, ali mesmo caiu, murcha e triste.
Triste, porque nem conseguiu ser a esperada alegria da molecada que, sem outra alternativa, voltou a jogar com a velha e surrada bola de meia.
Triste também foi a volta para casa, chorando a perda da minha primeira bola de futebol, de borracha, mas que bola linda.

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