24 de dez. de 2010

NA CONTRAMÃO DA MORALIDADE

Por Luiz Rogério de Carvalho

O deputado maranhense Pedro Novaes, aliado de José Sarney, e indicado pelo comando do PMDB para ser ministro do Turismo da presidente Dilma, descoberto que pagou conta de festa em motel com dinheiro público, comentando seu ato, simplesmente disse que considera ter cometido um erro, e que o dinheiro será devolvido aos cofres públicos. Com tamanha desfaçatez, considera que o fato, de somenos importância, com a devolução, terá restabelecida a normalidade, sem pensar que apenas usou de um artifício para esconder a sujeira.

A senadora catarinense Ideli Salvatti, também indicada para ser ministra da presidente Dilma, no Ministério da Pesca, ganhou espaço nos jornais brasileiros acusada de usar indevidamente verbas de diárias do Congresso para pagar hotel em Brasília, enquanto recebia auxílio-moradia. A senadora pediu ao Senado que apague do site da casa a informação de que os gastos foram indevidos, tudo apara varrer a sujeira para debaixo do tapete, dizendo que houve erro da assessoria (de costas largas) e mandou devolver o dinheiro aos cofres públicos. Também aqui, em mais uma atitude do tipo “me engana que eu gosto”, mais um político espera ter convencido os eleitores de que seus atos sempre foram praticados dentro dos mais estritos princípios da moralidade.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS), apresentou projeto de Lei que dá anistia fiscal e penal a contribuintes brasileiros que remeteram para paraísos fiscais dinheiro público obtido por corrupção e fruto de tráfico internacional de drogas, num verdadeiro estímulo ao crime que, assim, compensa. Embora a Associação dos Juízes Federais (AJUFE) tenha enviado nota técnica a todos os senadores mostrando a inconveniência e a imoralidade do projeto de Lei o relator da matéria já recomendou a aprovação. É triste.

12 de out. de 2010

PALHAÇO TIRIRICA

por Luiz Rogério de Carvalho

No caso da eleição do palhaço Tiririca, para a Câmara Federal, fato que expôs o Brasil a uma situação vexatória no cenário internacional, e que aguarda na Justiça Eleitoral um exame para verificar se o candidato é mesmo analfabeto, conta, agora, com um novo ingrediente, que é a manifestação do presidente da Comissão de Moralidade Pública da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB-SC), Eduardo Capella, dizendo ser possível que o juiz não submeta Tiririca à prova de um ditado, porque nesse tipo de teste, “talvez não passaria a maioria dos 513 deputados federais”.

Essa declaração, no meu entendimento, foi muito infeliz, pois é do conhecimento geral que alunos do primeiro ano escolar já são submetidos a exames de ditado. Portanto, a declaração do ilustre advogado, além de representar uma defesa prévia do palhaço Tiririca, invoca uma realidade política muito triste: a maioria dos representantes dos brasileiros, na Câmara Federal, não passaria no teste de um simples ditado, que é feito aos alunos do primeiro ano escolar.

10 de out. de 2010

CIGARRO...CANCER

por Luiz Rogério de Carvalho

Entristecido, com o grande número de conhecidos, amigos, filhos e esposas que, pelo maldito vício do cigarro são levados à morte, não posso silenciar diante desta realidade, que infelicita milhares de lares com a morte prematura e cruel de pessoas que ainda poderiam viver muito, mas, que o câncer impiedoso a todos acaba matando, depois de longo sofrimento.

O que me deixa um pouco desanimado, é ver que muitos viciados no cigarro, mesmo diante de fatos que comprovam a sua letalidade, e sendo um dos principais causadores de câncer de pulmão, estômago, laringe, garganta, boca e outros órgãos, mesmo presenciando a morte e o sofrimento de amigos e parentes, parecem bloqueados no entendimento, e aos mais contundentes argumentos não dão a menor importância. Até parece que o vício, que lhes está roubando a saúde, também lhes tira a capacidade de raciocinar com bom senso.

Felizmente, também encontramos o outro lado, que não podemos ignorar, e até devemos citar, como exemplo e estímulo, na esperança de que os fumantes venham a se libertar das garras desse terrível e devorador monstro. São pessoas que, conscientizadas, muitas até auxiliadas por medicamentos e profissionais da área da saúde, depois de alguns sacrifícios para romper as correntes do vício, que aprisiona, vencendo dificuldades inerentes, conseguiram a liberdade e, hoje, apregoam as vantagens de viver sem cigarro.

24 de jun. de 2010

A VELHA PONTE



Por Luiz Rogério de Carvalho

Durante décadas a ponte Hercílio Luz, de Florianópolis, como única ligação entre a ilha e o continente, cantada em prosa e versos, fotografada por milhares de turistas, pairando altaneira sobre o mar que separa o continente do lindo “pedacinho de terra”, também ficou conhecida como o mais bonito cartão postal da capital catarinense.
Com o aumento do número de veículos que por ela passava, e com o desgaste natural de seus materiais, a ponte, que sempre foi objeto de um permanente serviço de manutenção, viu ser construída, ao seu lado, uma nova e moderna ponte de concreto, à qual, não muito tempo depois, veio somar a construção de mais uma, também de concreto, também moderna.
A vetusta ponte Hercílio Luz, que tanto serviu aos catarinenses, ligando a Ilha-Capital ao resto do Estado, que, no limite de sua capacidade sempre cumpriu sua missão, eis que, pela idade avançada, e por causa da natural exaustão de seus materiais, mesmo com a constante e onerosa manutenção mantida ao longo dos anos, foi interditada para o tráfego de veículos, permanecendo até hoje como um belo monumento, que encanta moradores e visitantes.
Mesmo sabendo que a ação do tempo é implacável sobre tudo que é construído pelo homem, administradores públicos e políticos catarinenses insistem em transformar o cartão postal em ponte útil para a passagem de um metrô de superfície, uma necessidade para o transporte coletivo urbano, mas, que nada garante que a velha ponte irá suportar.
Aliás, este mirabolante projeto, cuja licitação foi anunciada pelo ex-governador Luiz Henrique da Silveira, em 2007, tem tudo para ser mais um ingrediente adicionado à sua plataforma de campanha política de candidato ao Senado, mais uma utilidade da velha ponte, que além de ser um colírio para nossos olhos, com os milhões gastos em reformas e manutenção, tem sido a garantia do caviar e do scotch de muita gente.

22 de jun. de 2010

PANGA



por Luiz Rogério de Carvalho


Atualmente, com o auxílio dos diferentes meios de comunicação, grande número de pessoas, seguindo orientação médica, e buscando melhorar a qualidade de vida, vêm mudando seus hábitos, seja através da prática de caminhadas e outros exercícios físicos, seja mudando o hábito alimentar. Nisto, podemos dizer que é grande o número de pessoas que estão deixando de comer carnes vermelhas, substituindo-as por peixes e outras carnes brancas.

Entretanto, assim como o aumento do consumo, também está ocorrendo um acelerado aumento do preço do pescado, especialmente o peixe de mar, aquele que, pelas condições de alimentação natural, reúne as melhores condições para uma alimentação saudável.

É aqui que entra uma situação que está intrigando muitos consumidores, pois, pelo aumento do custo do peixe de mar, grande número de restaurantes está oferecendo aos seus clientes um peixe de água doce, um bagre de nome Panga, importado do Vietnam, que é produzido industrialmente no delta do rio Mekong, um dos rios mais poluídos do mundo. Este peixe, alimentado artificialmente com os mais variados tipos de alimentos e subprodutos, cresce muito mais que outras espécies, e engorda muito. Tirada a gordura, ele até tem um sabor agradável, o que leva muitos consumidores a apreciá-lo.

Acontece que, levados pelo fator custo/lucro, e o peixe vietnamita é muito barato, um grande número de restaurantes está substituindo o peixe de mar pelo Panga importado, mas, sem dizer ao consumidor de que peixe se trata. Quando é fornecido qualquer peixe de mar o nome dele é informado, entretanto, quando é Panga o nome é omitido, isto numa inconfessada intenção de confundir.


6 de jun. de 2010

SAUDAÇÃO À BANDEIRA - II



Por Luiz Rogério de Carvalho

Em nome desta assembléia de homens livres, aqui reunidos, eu te saúdo Bandeira do Brasil, pelo que representastes no passado, sendo fonte de inspiração de nossas conquistas democráticas, e pelo que representas no presente, como símbolo emblemático de nossas mais ardentes aspirações.

Bandeira do Brasil, mesmo em outras épocas e com outras cores, sempre fostes o símbolo sagrado do solo e do povo brasileiro, tu, que estavas com os inconfidentes de Minas, e, com Tiradentes subiu ao patíbulo, em 1792.

Bandeira do Brasil, que também esteve com o maçon Gonçalves Ledo, quando, liderando movimento libertário, e motivando D. Pedro I, o levou ao grito do Ipiranga, onde foi declarada a independência brasileira.

Bandeira do Brasil, tu estavas com Joaquim Nabuco, que dedicou sua vida, com obstinação e competência na luta pela abolição da escravatura, curando a chaga, que teve o Brasil como último país ocidental escravista.

Bandeira do Brasil, que ao longo da história pátria inspirou tantos outros valorosos brasileiros, os maçons, aqui reunidos te saúdam na esperança de que neste ano de eleições inspires os eleitores, para que escolhamos pessoas certas para dirigir nosso país, que tanto tem sido vilipendiado pela ação de maus políticos, maus brasileiros, que distanciados dos reais interesses nacionais, fazem da política mero instrumento para a realização de seus projetos pessoais.

Bandeira do Brasil ilumina, também, o Judiciário Brasileiro, para que as leis sejam aplicadas a todos, com igualdade de condições, como dispõe nossa Constituição. Que a celeridade processual seja a garantia da sua aplicação, eliminando a situação hoje existente, onde a morosidade garante aos infratores, aos corruptos, especialmente os poderosos, a certeza da impunidade, pois, como bem disse o mestre Rui Barbosa, na sua brilhante Oração aos Moços: “Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”.

Finalizando, querida Bandeira do Brasil, receba dos obreiros da paz, aqui reunidos, o renovado compromisso de defender-te, agora e sempre, pois acreditamos na grandeza do porvir do solo que representas.

Salve Bandeira do Brasil.

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8 de mai. de 2010

"BICO" PARA POLICIAIS



Por Luiz Rogério de Carvalho


Há muito tempo que não se via uma proposta tão indecente quanto esta do governador Pavan, de instituir o “bico” para policiais civis e militares.

É do conhecimento de todos, que a eficiência do policiamento depende do número de homens, do preparo que recebem, e também do grau de satisfação quanto à remuneração.

Santa Catarina, a despeito das promessas, não cumpridas, de Luiz Henrique, se recente de estabelecimentos prisionais, e não tem o número de policiais necessários para garantir a segurança de seus cidadãos, assim como também paga muito mal os policiais, que, por necessidade, alguns até podem aceitar a existência do “bico”, essa excrescência, que só poderia ser proposta por um governador que foi denunciado pelo Ministério Público Estadual pela pratica de crimes de corrupção passiva, violação de sigilo funcional e advocacia administrativa, este último também um “bico”, criminoso.


3 de mai. de 2010

"UMA FACULDADE PARA BLUMENAU"



por Luiz Rogério de Carvalho


Convicto de que o verdadeiro progresso só se consegue através do conhecimento, acompanhando outros blumenauenses que lutavam pela criação de uma Faculdade em sua cidade, participei do movimento “Blumenau Precisa de Uma Faculdade” iniciado em 1962, que, com o espaço criado pelo jornal “A Nação”, órgão dos Diários Associados, e dirigido em Santa Catarina pelo jornalista Maurício Xavier, passou a defender a ideia, publicando, em todas as edições, em destaque, a frase “BLUMENAU PRECISA DE UMA FACULDADE”.

O movimento ganhou corpo, reunindo as classes representativas da cidade e, em todas as ocasiões, especialmente em encontros com representantes das várias correntes da sociedade, a ideia era defendida, e atuação dos políticos era cobrada.

Engajado na campanha, em 23 de Julho de 1963, com o entusiasmo da juventude, escrevi o artigo “UMA FACULDADE PARA BLUMENAU”, publicado no Jornal “A Nação”, na edição nº 327, de 24/07/1963, que abaixo transcrevo:

“Numa iniciativa digna de louvores, foi criado nesse jornal uma Coluna de Debates destinada a tratar, com a participação de leitores, de assuntos de interesse da coletividade, assunto de qualquer natureza, desde que abordado dentro de um princípio elevado, obedecendo à ética jornalística e trazendo um conteúdo que realmente seja do interesse da população blumenauense. Como o assunto que está em foco trata de uma das necessidades de nossa terra (digo nossa, porque Blumenau é realmente uma cidade acolhedora, e todos aqueles que aqui chegam, dentro de pouco tempo sentem-se à vontade para assim se expressar), necessário se faz conjugarmos esforços e, desta “Coluna de Debates” não silenciarmos enquanto não for atingido nosso objetivo: UMA FACULDADE, para os jovens, principalmente aqueles que, embora desejosos de aumentar seu conhecimento, sendo inteligentes e dispondo de todos os requisitos necessários para se tornarem homens úteis ao seu Município e ao Brasil, não o fazem por falta de condições financeiras que lhes permitam arcar com enormes despesas em outras partes do país. Quem não sabe das dificuldades que um jovem encontra para cursar uma Escola Superior? Quem desconhece as dificuldades de empregos que há nas cidades universitárias mais próximas? Com uma Faculdade em Blumenau tudo seria mais fácil. Não haverá necessidade de deixar um emprego garantido, para aventurar um segundo em outro lugar.

É, pois, necessário que aproveitemos todas as oportunidades para exigir de nossos Representantes na Câmara de Vereadores, na Assembleia Legislativa e mesmo na Câmara de Deputados Federais, uma vez que lá também há um blumenauense, para que façam valer os seus mandatos, lutem em prol desta causa simpática, e façam alguma coisa para que Blumenau tenha a sua Faculdade. Não importa que seja de Filosofia, de Direito ou de Ciências Econômicas. O que realmente interessa é que seja criada uma Faculdade. Funcionando a primeira, as outras virão depois. Particularmente, optamos pela criação da Faculdade de Ciências Econômicas, uma vez que esta será mais fácil de fazer funcionar, pois os professores poderão ser encontrados aqui em Blumenau. Alguns já se prontificaram a dar aulas gratuitamente. Mas o importante, insisto em frisar, é que uma Faculdade seja instalada. Qualquer uma trará benefícios a Blumenau e sua gente.

A propósito desse assunto, correm rumores na cidade que o “líder” do movimento, vereador Dr. Bernardo Wolfgang Werner, está empenhado em fazer funcionar ainda este ano uma Faculdade em Blumenau. Se isso se confirmar, o que desejamos, desde já hipotecamos-lhe solidariedade. Blumenau, 23 de julho de 1963.”

1981, decorridos 18 anos, eis que recebo meu diploma de Bacharel em Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas de Blumenau - FURB, hoje Fundação Universidade Regional de Blumenau, aquela cuja semente que, modestamente ajudei a plantar, encontrando solo fértil germinou e frutificou, tornando-se uma das mais importantes instituições de ensino superior do país.

2010, jubilado na OAB/SC, e tendo exercido por cerca de 30 anos o ofício de advogado, relembro, com saudade e orgulho, do empenho de tantos abnegados companheiros, que dedicaram seu tempo na busca e conquista de um ideal que, modestamente, tive a honra de participar.


24 de mar. de 2010

O FUMANTE



Por Luiz Rogério de carvalho


É muito difícil convencer um fumante, do mal que o fumo lhe causa , assim como do inconveniente que ele representa aos demais não fumantes, compulsivamente fumantes passivos, pois os longos anos de vício já criaram nele uma falsa noção de que fumar é coisa normal, e de que todos devem tolerar essa “normalidade”.

Se ele está em sua casa ou apartamento, aí então nem falar em não gostar do cheiro da fumaça do seu cigarro. Quando muito, o fumante vai para próximo de uma janela, e aí acha que todos os demais estão protegidos. Até esquece que a massa de ar da rua, sendo muito maior, empurra para dentro do ambiente interno todo o produto do seu prazer.

Felizmente, hoje já temos lei que proíbe o fumo em lugares fechados públicos. Esta lei protege até os próprios fumantes, aqueles que, em seus estabelecimentos comerciais, inconscientemente, fumando, criariam uma barreira entre seus possíveis clientes, que não fumam.

Também, nas relações pessoais mais íntimas, o cigarro é um grande entrave, pois, para o não fumante, beijar um fumante é quase como estar beijando um cinzeiro, tal o gosto desagradável da nicotina, acumulada nos órgãos internos do fumante. Daí o resultado de muitos desentendimentos, e até separações de casais.

Sendo o tabaco um causador, comprovado, de tantos aborrecimentos, de tantas doenças que matam, e afetam a saúde pública com enorme custo social, melhor seria que, em intensas campanhas, os governos incentivassem o abandono do cigarro, desestimulando essa indústria que, embora rentável e pagando altos impostos, na realidade produz a morte.


10 de mar. de 2010

ESQUERDA FESTIVA



Por Luiz Rogério de Carvalho


Grande parte dos que ainda se intitulam esquerdistas no Brasil, na realidade, não passam de membros da “esquerda festiva”, aquela composta por pessoas com altos salários, geralmente recebendo dos cofres públicos, e usufruindo, como grandes consumistas, de todos os benefícios que o capitalismo oferece.

Assim, é muito fácil defender o regime totalitário de Fidel Castro, o socialismo, e o comunismo já sepultado na Rússia, bem como ser simpático ao “Socialismo Bolivariano” do populista Hugo Chaves, que vem avançando, na mesma proporção em que retrocede a democracia na Venezuela.

Sobre este assunto, o inteligente e polêmico economista Roberto Campos, assim definiu a esquerda festiva: “É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais da esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola”.

12 de fev. de 2010

O BEIJA-FLOR



por Luiz Rogério de Carvalho


Preocupado com a degradação do meio ambiente, e com destruição da flora e da fauna, ele era um vigilante nas proximidades de sua residência, onde, freqüentemente, desativava os alçapões que alguns garotos, sem uma esclarecida consciência ecológica, armavam para aprisionar passarinhos, para viverem cativos em apertadas gaiolas.

Certo dia, fazendo a costumeira limpeza no jardim, viu um ninho de beija-flor, cuidadosamente construído entre os galhos de uma roseira em flor, onde estavam depositados três ovinhos.

A alegria da descoberta foi evidente e, desde então, passou a observar o dono do ninho, o lindo beija-flor que, após seu passeio diário para a colheita do néctar nas flores das imediações, à tardinha, voltava para chocar seus ovinhos.

Os dias passavam, cheios de alegre e curiosa expectativa pelo desenvolvimento da futura família do lindo beija-flor, quando, numa tarde, viu que três cabecinhas se movimentavam dentro do minúsculo ninho, protegido com as folhas e ornamentado com as rosas. Foi então que, com maior dedicação passou a observar e cuidar de seus novos visinhos. Chegando do trabalho, passando próximo da pequenina residência, com emoção e alegria, acompanhava o crescimento dos pequeninos beija-flores.

Mas, mesmo morando no jardim, para as avezinhas nem tudo foram flores, pois, numa manhã de sol radiante, quando saía de sua garagem para ir ao trabalho, nosso amigo sentiu seu coração bater mais forte quando viu, voando com grande velocidade e, possivelmente trazendo alimentos para seus filhotes, a mãe beija-flor, que se chocou com o vidro do seu automóvel, caindo irremediavelmente morta. Pegando a avezinha, e olhando para os filhotinhos, agora órfãos, sentiu que a única alternativa possível seria a adoção.

Com habilidade e carinho, sobre o ninho, que ficou sem a proteção do corpo materno, aproveitando os galhos da roseira construiu uma cobertura, e passou a alimentar as pequeninas aves com mel misturado com água, que fornecia com um conta-gotas, na esperança de que tudo desse certo, e deu, pois a cada dia via progresso, e sentia a alegria dos filhotes, e sua, ao receberem o precioso alimento.

As pequenas aves cresceram e, já emplumadas, ensaiavam seu primeiro vôo, até que, numa linda tarde ensolarada, quando nosso amigo chegou para alimentá-las, viu que duas já tinham alçado vôo, ficando apenas uma para receber o último alimento do dia.

Foi lindo, pois depois de introduzir sua lingüinha no conta-gotas, num gesto de agradecimento, representando o grupo, bateu asas e voou livre, em busca de novas flores.

O ninho ficou vazio, mas o coração do nosso amigo ficou cheio de alegria, por ter contribuído com uma pequena parcela para a continuação da vida.

14 de jan. de 2010

AMIGO CURT



por Luiz Rogério de Carvalho


Perseguido na Alemanha nazista, por sua origem judaica, antes da 2ª guerra Curt emigrou para os Estados Unidos, onde se alistou no exército americano, que veio a combater as tropas de Hitler.

Durante os primeiros combates, foi ferido no braço por uma granada, o que lhe impossibilitou de continuar na guerra, e o deixou com um defeito físico para toda a vida. Com um braço praticamente inutilizado para manusear o fusil, Curt foi dispensado do exército, com o posto e vencimentos de sargento da reserva.

Ainda nos Estados Unidos, conheceu Lot, uma simpática jovem americana, inteligente e dedicada, com quem se casou. Pouco tempo depois emigrou para o Brasil. Aqui, em sociedade com um amigo, na cidade de Blumenau, onde sempre morou, fundou uma fábrica de chocolates, onde sempre atuou como sócio-gerente, e encarregado das vendas no interior do Estado, pois viajar, conhecer novos lugares e pessoas, era um dos seus prazeres.

Ao lado do trabalho na fábrica, Curt sempre encontrou tempo para dedicar à comunidade, especialmente no preparo da juventude, que dizia ser a semente do progresso de qualquer nação.

Tendo participado, na juventude, do movimento escoteiro na Alemanha, decidiu dedicar-se à causa na cidade que adotou no Brasil. Foram muito difíceis os primeiros tempos de organização do Grupo de Escoteiros, pois sem recursos financeiros para custear as instalações, foi necessário recorrer à comunidade, pedindo auxílio.

Com seu sotaque enrolado, falando um português bem arrastado, mas sempre irradiando simpatia, e um sorriso espontâneo e permanente, foi conquistando o respeito, a confiança e a colaboração da comunidade e, em pouco tempo, reuniu os recursos necessários para dar ao Grupo de Escoteiros de Blumenau uma bem montada sede própria, onde reunia a tropa e, com seu entusiasmo contagiante transmitia aos jovens os ensinamentos deixados por Baden Powell, fundador do escotismo.

Sua preocupação e dedicação à juventude não se resumia ao trabalho dedicado ao movimento escoteiro, pois, sendo membro ativo da maçonaria, sempre presente às reuniões e encontros festivos, especialmente nas programações que reunia as famílias, era sempre esperado o momento em que o Curt chamava as crianças para, organizadas em fila, esperar pela surpresa, que era ansiosamente aguardada. À frente da garotada, colocava na cabeça uma cartola que, dobrada, trazia no bolso, desenrolava e pendurava na parede uma faixa que continha desenhos, símbolos e palavras. Apontando para os desenhos, esperava que fosse, por todos, repetido o seu significado. Ao final de cada série de desenhos, todos repetiam uma música que, em alemão, ele cantava com muito entusiasmo. Ao final da apresentação, como prêmio pela participação, as crianças e, muitas vezes adultos, recebiam chocolates, tirados de uma sacola.

Este costume cultivado pelo Curt, de animar as festas, agradando as crianças, foi mantido durante muitos anos, mesmo sem a cartola, que foi emprestada a um grupo de teatro que se apresentou na cidade, e “esqueceu” de devolvê-la.

Nunca se declarou ateu, entretanto, sempre se manifestou ardoroso naturalista, dizendo que somos parte desta bela e majestosa natureza, por muitos, agredida e desconsiderada.

Certa manhã, recebi um telefonema de um amigo, avisando que o Curt tinha morrido, vítima de enfarto fulminante, quando caminhava pela rua. Depois de informado que o velório seria na sede do Grupo de Escoteiros de Blumenau, para lá me dirigi, onde encontrei um grande número de pessoas, amigos e admiradores que, consternados, se despediam do Curt.

No sepultamento, cumprido o ritual religioso pelo pastor da igreja da comunidade, como ninguém dissesse nada sobre o Curt, a viúva, Lot, discretamente pediu-me que pronunciasse algumas palavras, já que éramos amigos.

Atendendo ao pedido, com emoção, falei sobre suas qualidades, falei que, certamente, Curt que tanto amara a natureza, agora estava voltando ao seu seio, de onde veio, que voltava a viver na seiva das árvores, no canto dos pássaros, e no marulhar das ondas, nesta maravilhosa natureza, onde mais se deve procurar a religião, pois, como há muito tempo tinha lido em Eça de Queiroz, não é nas hóstias místicas que anda o corpo de Jesus – é nas flores das laranjeiras.

Sepultado meu amigo, depois de alguns dias, encontrei minha amiga, a viúva Lot, que, logo de início foi dizendo que mesmo tendo sido verdade tudo o que eu dissera sobre o falecido, no primeiro encontro que teve com o pastor, recebeu deste uma enérgica advertência, pois, para o cuidadoso pastor, ela escolheu um ateu para falar sobre seu marido.

5 de jan. de 2010

O PODER JUDICIÁRIO REINVENTADO




por Luiz Rogério de Carvalho


O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, em declaração inusitada, entrevistado pelo jornal O Globo, declarou que "O Poder Judiciário tem uma parcela grande de responsabilidade pelo aumento das práticas de corrupção em nosso país"..."a generalizada sensação de impunidade verificada hoje no Brasil decorrem em grande parte de fatores estruturais, mas é também reforçada pela atuação do Poder Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas interpretações lenientes e muitas vezes cúmplices para com os atos de corrupção e, sobretudo, com sua falta de transparência no processo de tomada de decisões. Para ser minimamente eficaz, o Poder Judiciário brasileiro precisaria ser reinventado."

Entendemos que a corrupção é a principal causa do descrédito das instituições, cujos membros, que cometem desvios administrativos continuam exercendo suas funções públicas e, candidatando-se a cargos eletivos, onde, depois de eleitos, passam a ter foros privilegiados, quando, pelo corporativismo reinante nas casas legislativas, ou, mais uma vez, pela lederdeza do Poder Judiciário, nunca são alcançados, perpetuando-se assim a impunidade, como uma marca registrada brasileira.

Não só os supostos corruptos deixam de serem julgados e condenados, como também os criminosos comuns, aqueles que cometem crimes contra o patrimônio e a vida, que, depois de julgados e condenados, continuam gozando de plena liberdade. Muitos deles, com prestígio e muito dinheiro, assessorados por bons advogados, jamais cumprem as penas. É o caso, entre outros, do jornalista Pimentas Neves que, covardemente, executou sua namorada e, mesmo condenado, continua em liberdade, beneficiado pela morosidade do Poder Judiciário, bem aproveitada por competentes defensores.

Assim, quando a crítica, ou autocrítica, vem de um membro da mais alta corte de justiça do país, dizendo que o Poder Judiciário brasileiro teria de ser reinventado, parece ser chegado o momento de alguma coisa ser feita, pois o Brasil que, no concerto das nações, já é considerado um dos países com mais alto índice de corrupção do mundo, não pode conviver, também, com a pecha de ter um dos piores judiciários.